terça-feira, 16 de agosto de 2011

XVI CLAE: luta integrada de milhares de jovens da América Latina


Mais de 3 mil pessoas participaram do Congresso que foi marcado pela diversidade e em defesa da juventude.
Cinquenta e seis anos após o primeiro evento, Montevidéu, no Uruguai, volta a ter as cores e os sotaques de toda América Latina em mais um Congresso Latino Americano de Estudantes (CLAE). A UNE, que entende a unidade continental como um grande caminho para a transformação, está presente no encontro e promete, até o dia 14, deslocar 800 jovens brasileiros para as margens do Rio da Prata. Diariamente, o site oficial da entidade também publicará momentos e movimentos de toda juventude nas atividades do Congresso.

Esta 16ª edição é, particularmente, bastante importante na trajetória do movimento estudantil, pois é comemorado também os 45 anos da Organização Continental de Estudantes (OCLAE), fundada em Cuba, em 11 de agosto de 1966, sob o lema "Unidade, solidariedade e luta contra o fascismo e o imperialismo, em defesa da educação pública e autonomia universitária".

Daqui, fica fácil perceber que na atual conjuntura, marcada pela multipolaridade, a juventude da América Latina tem um merecido destaque. Seja pelos estudantes argentinos, que enfrentam o embate de rumos em um acirrado processo eleitoral; seja pelos estudantes uruguaios na luta pelo fim da lei de Caducidad e pela segunda Reforma Universitária; os estudantes colombianos contra a militarização do seu país e a ocupação norte-americana; ou os estudantes peruanos, que impuseram uma derrota ao Fujimorismo. Não poderia deixar de citar os estudantes brasileiros, em luta pela implementação de 10% do PIB e 50% do fundo social do Pré-sal em educação, disputando os rumos do país.

E o Chile? Impossível não falar da principal luta estudantil do continente. Hoje, todos os olhos da América Latina e do Caribe estão voltados para os estudantes chilenos, que ocupam as ruas e lutam por uma educação pública e de qualidade. Nesta quarta-feira (11), inicio das atividades do 16º CLAE, foi bonito ver a delegação chilena chegando ao Palácio Peñarol, para a Conferência Inaugural. Mesmo com a notável mobilização que está acontecendo no Chile, eles estão em peso no CLAE, caminhando juntos, já com a garganta rasgada, de tanto pronunciarem em voz alta suas bandeiras de luta.

"A crise do capitalismo e suas alternativas na situação internacional" permeou o primeiro debate do Congresso, no Palácio Peñarol, que contou com a reflexão de figuras importantes, como o secretário da Central dos Trabalhadores do Uruguai (CNT), Marcelo Abdala; o cientista político, Atilio Boron; o argentino e sociólogo, ex-embaixador uruguaio em Cuba, Jorge Mazzarovich; e o equatoriano Sebastián Ceballos.

Os três participantes citaram como proposta a criação de um plano de mobilidade acadêmica para o continente, que preserve o caráter público do ensino e que contribua para a integração justa e solidária dos países da região. As falas foram entoadas por canções de todos os sotaques e estandartes de todos os tamanhos e cores, que juntos, somavam a composição de mais de 2 mil jovens.

Após a Conferência Inaugural, uma série de discussões simultâneas aconteceram em Montevidéu e um dos principais debates da tarde desta quarta-feira foi, sem dúvida, sobre “A defesa dos direitos humanos e sociais de nossos povos”. A deputada federal e presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados do Brasil, Manuela d`Ávila, esteve presente e conseguiu chamar a atenção até dos que pouco entendem a língua portuguesa para uma explicação sobre os problemas que gravitam o tema em questão. O Senador uruguaio Oscar López Goldaracena e o sociólogo colombiano Pedro Hernandez também fizeram parte da mesa e propuseram uma boa reflexão a respeito.

O ambiente por si só já antecipava o clima do debate, que foi realizado no Paraninfo da Faculdade de Direito da Universidade da República do Uruguai. Há exatos 50 anos, Che Guevara, ainda quando Salvador Allende compunha o senado em 1961, fez um discurso histórico convocando todos os estudantes a participaram das mobilizações que estavam acontecendo na América Latina. Hoje, é lá que acontecem as principais aulas magnas da universidade.

O debate acerca dos Direitos humanos casa com essa passagem, pois atravessa longos séculos de história. Apesar do seu reconhecimento inquestionável a partir das Revoluções do século XVIII, é possível localizar suas origens em todas as épocas e civilizações que se preocuparam com os direitos inerentes a todas as pessoas.

Para Manuela, a luta em defesa dos Direitos Humanos se confunde com a luta pela democracia. No Regime Militar, o país viveu um longo período de arbítrio, onde garantias fundamentais foram suspensas e direitos violados pelo Estado. O Ato Institucional nº 5 transformou-se na marca do período e no sinônimo de censura e de violência.

“A conquista da democracia cessa a luta pelos Direitos Humanos? Não. Os Direitos Humanos devem fazer parte das ações legislativas do Congresso, pautando discussões e embasando decisões que visem à garantia da dignidade e soberania do continente. Isso significa não tratar como polêmica os temas que são polêmicos apenas para uma minoria. Temos que tratar como Direitos fundamentais o direito à moradia, à mobilidade urbana, à educação, à saúde e ao trabalho. Para todos da América Latina”, pontuou.

No fim de uma tarde atípica para a época do ano, quente, cerca de 3 mil estudantes participaram da abertura oficial do 16º CLAE em plena avenida 18 de Julho, em frente ao Paraninfo da Faculdade de Direito da Universidade da República do Uruguai. Em uma só voz e com a consciência de que a história é construída por várias mãos, a juventude pedia integração e melhoria na educação para todos os povos da América Latina.

O ato foi uma comemoração aos 45 anos da OCLAE e homenageou Mario Benedetti, polígrafo uruguaio mais conhecido por seus contos e romances traduzidos a muitos idiomas. Na ocasião, foi entregue aos familiares do escritor uma placa com a ordem “José Rafael Varona”, um grande militante da época da ditadura do país. Estiveram presentes para saudar todos os estudantes o presidente do Uruguai, José Mujica; a prefeita da cidade, Ana de Oliveira; o Reitor da Universidade do Uruguai, Rodrigo Arocena; e o presidente da OCLA, o estudante cubano Iordanis Charchaval.

Durante o ato de abertura, também foram celebrados os 85 anos de nascimento de Fidel Castro e todos os estudantes que combateram a defesa da liberdade e da justiça, exatamente no dia em que se relembra o assassinato do estudante uruguaio Liber Arce, primeiro mártir do combate à ditadura nesse país. Ao terminar o ato, a fala abriu passagem para a música animar ainda mais toda juventude.

Fonte: Portal UNE.

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